segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Resumo do Grupo de Estudos "Epistemologia Feminista" - parte 1

Resumo do grupo de estudos da Butler[1]
Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade.

O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mais que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra de montão.
                                                                                 Guimarães Rosa[2]


            Partindo do prefácio, Judith Butler (2011) nos traz questões que foram seminais para a elaboração do livro, nos incitando a pensar que “problemas são inevitáveis e nossa incumbência é descobrir a melhor maneira de cria-los, a melhor maneira de tê-los” (p. 7). Não é a toa que o livro chama-se “Problemas de Gênero” e tem como subtítulo “Feminismo e subversão da identidade”.
            Para Butler, as noções de gênero, sexo e identidade são problemáticas que devem ser investigadas ao modo da “genealogia”. Ela afirma: “A crítica genealógica (...) investiga as apostas políticas, designando como origem e causa categorias de identidade que, na verdade, são efeitos de instituições, práticas e discursos cujos pontos de origem são múltiplos e difusos. A tarefa dessa investigação é centrar-se – e descentrar-se – nessas instituições definidoras: o falocentrismo e a heterossexualidade compulsória[3]”.
            Duas das questões de Butler apresentadas no prefácio são: “que formas de políticas surgem quando a noção de identidade como base comum já não restringe o discurso sobre políticas feministas? E até que ponto o esforço para localizar uma identidade comum como fundamento para uma política feminista impede uma investigação radical sobre as construções e normas políticas da própria identidade?” (p. 9-10).
            Butler questiona o feminismo dado como o movimento de mulheres brancas de classe média, dando abertura para a possibilidade de se pensar políticas ditas feministas para além da margem dessa identificação: mulher-branca–classe média. Butler abre aqui o questionamento sobre a própria necessidade de identificação a priori, para se lutar por melhorias na vida, para além da repressão e disciplinamento da vida regrada e necrófila[4]. (Liberdade estaria sobretudo fora das margens, nas possibilidades não-ditas e não catalogáveis até então? – lembrando que o gênero é um estar sendo[5]).
            A autora afirma também que seu texto possui muito mais fontes do que as que apresenta e que seu objetivo no livro é: “de maneira geral, observar como as fábulas de gênero estabelecem e fazem circular sua denominação errônea de fatos naturais[6]” (p. 12).
            O Capítulo 1: “Sujeito do sexo/gênero/desejo”, se divide em seis tópicos: “1. “’Mulheres’ como sujeito do feminismo; 2. A ordem compulsória do sexo/gênero/desejo; 3. Gênero: as ruinas circulares do debate contemporâneo; 4. Teorizando o binário, o unitário e além; 5. Identidade, sexo e a metafísica da substância; 6. Linguagem, poder e estratégias de deslocamento”.
No capítulo 1, a autora, através de sua “genealogia crítica”, questiona a própria noção de categoria das “mulheres” como sujeito político do feminismo, nos dando com isso possibilidades de pensar o feminismo como movimento politico que não exige um sujeito pautado em parâmetros prefigurados, como até então se pensava. (sobretudo um sujeito único e universal ligado às mulheres). Butler nos diz que: “a tarefa é justamente formular, no interior dessa estrutura constituída [jurídicas da linguagem e da política], uma crítica às categorias de identidade que as estruturas jurídicas contemporâneas engrandecem, naturalizam e imobilizam”, como as categorias de homem e mulher. (p. 22). Portanto, não se deve presumir, nem mesmo o feminismo, os sujeitos, ou identidades, homem ou mulher (“mulheres”).
Referências
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.



[1] Resumo elaborado por Bruno Duarte, Fernando Duarte, Indira Guedes, Jana Lisboa, Marcelle Silva e Renan da Ponte.
[2] ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, p. 23.
[3] O termo “falocentrismo” foi cunhado pro Freud para significar o poder do gênero masculino sobre o gênero feminino, e desenvolvido por Lacan para significar a construção das categorias sexuais por meio da linguagem. (Irigaray, 1978). Já o termo “heterossexualidade compulsória” foi apontado primeiramente por Adrienne Rich (1970) que faz asserções acerca dos mecanismos de dominação e de violência, sobretudo, contra as mulheres, para a manutenção da heterossexualidade obrigatória.
[4] O termo necrófila aqui utilizado tem origem em Fromm, no seu livro A Arte de Amar, e mais especificamente empregada no O Coração do Homem (1981), nos quais o autor quer deixar claro como não pode haver verdadeira libertação sem um real e profundo sentimento de amor pelos homens, sendo esse “sentimento de amor”, uma tentativa de construção do ser em comunhão, livre, da sociedade, não mais opressora e que para isso, é preciso uma atitude biófila, de amor a vida, a si, a existência, ao outro, em detrimento da necrofilia, que traz a vontade de destruição, ligado à morte, a repressão e falta de responsabilidade para com o outro.
[5] Butler deixa claro no final do capítulo 1 que “O gênero é a estilização repetida do corpo, um conjunto de atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora altamente rígida”, ou seja, ser de um “determinado” gênero, é uma indicação de práticas performáticas que se constroem e se perpetuam nas repetições dos performers.
[6] No que diz respeito às “fábulas”, estas podem ser pensadas como "ficções de gênero", construções socioculturais que ganham legitimidade e amplitude dentro de determinado contexto (também sociocultural) que atrelam o gênero à natureza. Ou seja, tornam "natural" aquilo que é arbitrário.


Membros do grupo: Bruno Duarte, Renan da Ponte, Jana Lisboa, Indira Guedes, Marcelle Silva e Fernando Duarte (da esquerda para direita)